sexta-feira, 6 de março de 2015

O jogo como elo entre o culto e a cultura - 2° ano


Na Educação Básica, é interessante pensar no jogo como elo entre cultura e culto e, por extensão, entre aprendizagem e ensino. Culto, segundo o dicionário, tem duas acepções. Na primeira, prevalecem as significações de (a) religioso, ritual, e (b) instruído, civilizado. Na segunda, tem-se a significação de cultura como "ato, efeito ou modo de cultivar". De acordo com essas significações, podemos considerar culto e cultura como faces de uma mesma moeda. De um lado está a importância simbólica do aspecto religioso ou da instrução e, do outro, a ideia de modo de cultivar. Para os interesses deste artigo, temos, portanto, de um lado, culto como magistério ou ensino fornecido por alguém qualificado para isso (Meirieu, 2005) e cultura como modo de cultivar, ou seja, de aprender aquilo que simbolicamente é transmitido.
                Como as crianças e os jovens cultivam o mundo e a si mesmos se não são pressionados pelos mais velhos? Pelo ludens, ou lúdico, responderia Johan Huizinga (1872-1945) (1990), um dos grandes teóricos do jogo. Para ele, é por meio do lúdico que as crianças inventam ou constroem para si mesmas a cultura e assim descobrem ou reconstroem a cultura da sociedade a que pertencem e que deverão assumir como sua. Mas, de sua perspectiva, a cultura só pode ser a da aprendizagem.
                Qual ou quais aprendizagens? As das regras, em sua perspectiva social e lógica (Piaget, 1996). Social, porque implicam trocas consentidas entre parceiros, que buscam um objetivo comum, o de ganhar ou superar primeiro um desafio. Por isso, competem entre si e precisam aprender a respeitar um acordo que organize de modo equivalente os conflitos de interesse. Lógica, porque se trata de aprender procedimentos, de aprender a jogar bem. Trata-se também de uma aprendizagem simbólica, pois jogar é simular, imaginar, criar, inventar, sair de si mesmo. Trata-se, por fim, de uma aprendizagem sensorial motora, pois jogar é implicar o corpo, suas sensações e percepções, organizando-as como esquemas de ações que se querem atentas, disciplinadas e bem-sucedidas em relação àquilo que se busca alcançar, motivado apenas pelo prazer de sua função (Piaget, 1964).
         Como crianças e jovens precisam aprender a cultivar o mundo e a si mesmos? Preferencialmente pelo lúcido, responderiam os educadores e os responsáveis pelas políticas públicas - ou seja, preferencialmente pelas coisas racionais e futurosas da escola, se considerarmos apenas o foco de nossa reflexão (Meirieu, 2005). Preferencialmente, eles responderiam também pelo rito da aula, pela importância que hoje atribuímos ao conhecimento e ao método científicos, pela cultura da escola, como instituição responsável, hoje, pela Educação Básica de todos (Castorina e cols., 2010). Preferencialmente, completariam, pelo valor do professor e suas instruções, como responsável ou mediador daquilo que ninguém pode ou quer hoje ficar excluído de saber e praticar.

Lino de Macedo (novaescola@fvc.org.br)


Disponível em <http://revistaescola.abril.com.br/formacao/jogo-como-elo-culto-cultura-663174.shtml?page=1> acessado dia 27/01/2015


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