Na
Educação Básica, é interessante pensar no jogo como elo entre cultura e culto
e, por extensão, entre aprendizagem e ensino. Culto, segundo o dicionário, tem
duas acepções. Na primeira, prevalecem as significações de (a) religioso,
ritual, e (b) instruído, civilizado. Na segunda, tem-se a significação de
cultura como "ato, efeito ou modo de cultivar". De acordo com essas
significações, podemos considerar culto e cultura como faces de uma mesma
moeda. De um lado está a importância simbólica do aspecto religioso ou da
instrução e, do outro, a ideia de modo de cultivar. Para os interesses deste
artigo, temos, portanto, de um lado, culto como magistério ou ensino fornecido
por alguém qualificado para isso (Meirieu, 2005) e cultura como modo de
cultivar, ou seja, de aprender aquilo que simbolicamente é transmitido.
Como
as crianças e os jovens cultivam o mundo e a si mesmos se não são pressionados
pelos mais velhos? Pelo ludens, ou lúdico, responderia Johan
Huizinga (1872-1945) (1990), um dos grandes teóricos do jogo. Para ele, é por
meio do lúdico que as crianças inventam ou constroem para si mesmas a cultura e
assim descobrem ou reconstroem a cultura da sociedade a que pertencem e que
deverão assumir como sua. Mas, de sua perspectiva, a cultura só pode ser a da
aprendizagem.
Qual
ou quais aprendizagens? As das regras, em sua perspectiva social e lógica
(Piaget, 1996). Social, porque implicam trocas consentidas entre parceiros, que
buscam um objetivo comum, o de ganhar ou superar primeiro um desafio. Por isso,
competem entre si e precisam aprender a respeitar um acordo que organize de
modo equivalente os conflitos de interesse. Lógica, porque se trata de aprender
procedimentos, de aprender a jogar bem. Trata-se também de uma aprendizagem
simbólica, pois jogar é simular, imaginar, criar, inventar, sair de si mesmo.
Trata-se, por fim, de uma aprendizagem sensorial motora, pois jogar é implicar
o corpo, suas sensações e percepções, organizando-as como esquemas de ações que
se querem atentas, disciplinadas e bem-sucedidas em relação àquilo que se busca
alcançar, motivado apenas pelo prazer de sua função (Piaget, 1964).
Como
crianças e jovens precisam aprender a cultivar o mundo e a si mesmos?
Preferencialmente pelo lúcido, responderiam os educadores e os responsáveis
pelas políticas públicas - ou seja, preferencialmente pelas coisas racionais e
futurosas da escola, se considerarmos apenas o foco de nossa reflexão (Meirieu,
2005). Preferencialmente, eles responderiam também pelo rito da aula, pela
importância que hoje atribuímos ao conhecimento e ao método científicos, pela
cultura da escola, como instituição responsável, hoje, pela Educação Básica de
todos (Castorina e cols., 2010). Preferencialmente, completariam, pelo valor do
professor e suas instruções, como responsável ou mediador daquilo que ninguém
pode ou quer hoje ficar excluído de saber e praticar.
Disponível em <http://revistaescola.abril.com.br/formacao/jogo-como-elo-culto-cultura-663174.shtml?page=1>
acessado dia 27/01/2015
Nenhum comentário:
Postar um comentário