Ao longo da história humana notamos que as concepções
de corpo se modificam, pelo menos aparentemente, de acordo com as mudanças
sociais, religiosas e de acordo com as revoluções.
O corpo na pré-história
O conceito de coletividade pode aparentemente nublar o conceito de
individualidade, é irresistível imaginar um homem primitivo em seu cotidiano,
lutando pelo alimento, usando seu corpo para solucionar os problemas diários,
tais como: beber água no rio usando as mãos em formato de concha, cavando a
terra com as mãos em formato de garras para retirar raízes e se alimentar,
enfim, agarrando, pegando, saltando, caminhando, agachando e fazendo todo o
tipo de coisas que posteriormente lhes foram fontes de novas ideias e criações.
Talvez estas informações permitam vislumbrar a aurora do papel do corpo como
mediador entre o homem primitivo e as superações das dificuldades ambientais. O
corpo do homem primitivo estava em sintonia e intimidade com o ambiente, com a
satisfação das necessidades e a solução dos problemas imediatos do cotidiano,
no tempo em que não existiam tantos instrumentos, o corpo, em si, era o
instrumento de mediação do homem com o mundo.
COSTA,
Vani Maria de Melo. Corpo e História.
Disponível em < http://www.unemat.br/revistas/ecos/docs/v_10/245_Pag_Revista_Ecos_V-10_N-01_A-2011.pdf>
acessado dia 26/01/2015
O corpo no período clássico
A cultura grega em geral, difundida nos contextos das cidades-estado,
deixa pistas da concepção diferenciada de corpo, um exemplo, Esparta e Atenas.
Em Esparta, o perfil de homem predominante na educação dos jovens era o da
virilidade, força e coragem, atributos essenciais aos soldados destinados às
guerras. Em Atenas o perfil se definia pela formação do jovem, hábil nos jogos
individuais e coletivos, versado nas artes na literatura, na oratória e na
filosofia, atributos do homem culto. Ambas as cidades cultuaram a beleza do
corpo forte ou suave, os contornos e definições do corpo, feminino e masculino,
deveriam levá-lo mais próximo possível da perfeição,
COSTA,
Vani Maria de Melo. Corpo e História
Disponível em <
http://www.unemat.br/revistas/ecos/docs/v_10/245_Pag_Revista_Ecos_V-10_N-01_A-2011.pdf>
acessado dia 26/01/2015
O Corpo na Idade Média
O domínio da igreja na idade média era indiscutível,
tanto nas questões religiosas, bem como nas questões econômicas e sociais. A
grande influência da igreja atinge também o corpo, esta exerce dominação sobre
a visão de santidade e profanação a respeito das questões relativas ao corpo.
Sendo assim o corpo assume ao mesmo tempo funções santas e funções profanas,
usos e costumes santos e também usos e costumes profanos.
O homem neste período era visto de forma fragmentada e
dualista, havia então, uma separação entre corpo e espírito, onde o corpo e as
coisas referentes à ele era visto como inferior, o espírito e as coisas
referentes a ele, normalmente ligadas à igreja, como superiores.
Valendo-se desta ideia, o controle do corpo era feito
pela natureza, Deus, o metafísico, o imaterial, o mito, um fenômeno que não
poderia ser explicado pelo homem, apenas reproduzido e aceito em forma de dogma
de verdade absoluta.
Partes do corpo eram santificadas, como a cabeça, pois
esta é quem comanda o corpo, assim como Deus comanda seus filhos, essa é capaz
de produzir inteligência e pensamentos elevados, em direção a Deus, as demais
partes servem a esta elevação divinal, e de forma nenhuma podiam servir aos
próprios gostos do corpo e seus prazeres. “[...] referenciais religiosos: a
hierarquia entre as partes ”nobres” do corpo e as partes ”julgadas indignas”, o
pudor orientado para o que agrada a Deus.” (Corbin 2008, p. 09)
Dessa forma vários tabus e concepções foram
construídas e até cristalizadas a respeito do corpo e seu uso. O sexo usado
para fins de reprodução humana, através do corpo era santificado e abençoado
por Deus, porém o uso do corpo e do sexo para fins de prazer somente, era
lascívia, luxúria, pecado abominável, dessa forma também eram visto as
genitálias e as zonas erógenas, impuras e profanas, santificadas apenas no
momento da reprodução. O sagrado segundo Rodrigues (1983, p. 25)” é o ser
proibido que não pode ser violado, do qual não podemos nos aproximar, porque
ele não pode ser tocado.”
Assim, quando o corpo era utilizado para as questões
relativas á Deus, à produção e engrandecimento do espírito, era santo, e quando
ele era utilizado para as questões materiais os “prazeres carnais”, o estudo, a
arte, ele era profano e deveria ser tratado como tal, negando, purgando,
purificando e santificando-o. A relação corpo natureza era vista com o domínio
da natureza sobre o corpo.
ALMEIDA, Guenther Carlos Feitosa. O corpo e
o trabalho: reflexões sobre a ginástica
laboral
e sua necessidade no sistema produtivo atual. Disponível em < http://www.efdeportes.com/efd142/o-corpo-e-o-trabalho-reflexoes-sobre-a-ginastica-laboral.htm>
acesssado dia 26/01/2015
O Corpo na Idade Moderna
Tempos Modernos - Charlie Chaplin
A modernidade impulsionada pelas revoluções industrial e francesa, surge
com outros paradigmas de sociedade, Deus, ciência e corpo. Neste momento
acontece uma total inversão de poder, a igreja se enfraqueceria deixando de ser
a detentora das verdades absolutas sobre o homem sobre Deus e sobre a
sociedade, passando a ser questionada por cientistas e filósofos, que por sua
vez trazem as verdades para o campo das ciências, assim estas eram obtidas a
partir da comprovação científica.
Na idade moderna, principalmente no período da revolução industrial e
francesa, há um novo olhar sobre o corpo, uma valorização muitas vezes aparente
uma indissociação de corpo e mente, corpo e espírito, há também uma busca pelo
renascimento de alguns conceitos de corpo da idade clássica, decorrentes do
pensamento de Descartes.
A modernidade então chega com a premissa de uma mudança na visão de
corpo, este era antes visto como profano ou só com o intuito de produzir coisas
espirituais e superiores, agora é estudado em sua forma material, dissecado,
analisado em formas humanas e não como anteriormente divinas e angelicais.
“Caracterizado na modernidade por meio de aspectos biológicos, o corpo é
parte do conteúdo estudado por uma ciência secularizada que assume os
pressupostos do dualismo cartesiano, [...]” (Suassuna, 2005, p.30)
Esta é a nova visão que o corpo assume na modernidade, sai do
determinismo divino e imaterial, para o determinismo biológico. A busca moderna
então seria pelo controle da natureza pelo homem Suassuna (2005).
ALMEIDA, Guenther Carlos Feitosa. O corpo e
o trabalho: reflexões sobre a ginástica
laboral
e sua necessidade no sistema produtivo atual. Disponível em < http://www.efdeportes.com/efd142/o-corpo-e-o-trabalho-reflexoes-sobre-a-ginastica-laboral.htm>
acesssado dia 26/01/2015
O corpo e o sistema
produtivo
Na modernidade com o resgate da noção de corpo como
máquina, gera o que Le Breton (2003 apud Suassuna 2005 p. 26) classifica como o
despojamento do valor do corpo, este é encarado como um “invólucro mecânico”
passível de separação entre corpo e subjetividade, corpo espírito, ou então essência
e aparência.
Dessa forma o corpo assume então uma face possível de
ser quantificado, mensurado, educado para então se otimizado para a produção. O
sistema capitalista em ascensão neste período, enxerga nestes conceitos a
possibilidade de melhorar os lucros por meio do aumento da força do
trabalhador. È neste momento que a ginástica assume um papel primordial na vida
dos trabalhadores e das fábricas.
“O corpo perde aí seus velhos encantos para um novo
regime de imagens: aquelas que privilegiam as leis da física hidráulica, a lei
dos líquidos e dos choques, a força do sopro do vento, o sistema das
engrenagens ou das alavancas”. (Corbin 2008, p.08)
Educar por meio da ginástica o corpo dos
trabalhadores, aperfeiçoar o funcionamento das máquinas humanas que são os
trabalhadores, dando-as uma boa “lubrificação” e “manutenção”, com a finalidade
destes produzirem mais foi então a grande busca dos patrões nas fábricas.
ALMEIDA, Guenther Carlos Feitosa. O corpo e
o trabalho: reflexões sobre a ginástica
laboral e sua necessidade no
sistema produtivo atual. Disponível em < http://www.efdeportes.com/efd142/o-corpo-e-o-trabalho-reflexoes-sobre-a-ginastica-laboral.htm>
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