sexta-feira, 6 de março de 2015

Corpo, história e relação de trabalho - 2º ano

Ao longo da história humana notamos que as concepções de corpo se modificam, pelo menos aparentemente, de acordo com as mudanças sociais, religiosas e de acordo com as revoluções.

O corpo na pré-história




O conceito de coletividade pode aparentemente nublar o conceito de individualidade, é irresistível imaginar um homem primitivo em seu cotidiano, lutando pelo alimento, usando seu corpo para solucionar os problemas diários, tais como: beber água no rio usando as mãos em formato de concha, cavando a terra com as mãos em formato de garras para retirar raízes e se alimentar, enfim, agarrando, pegando, saltando, caminhando, agachando e fazendo todo o tipo de coisas que posteriormente lhes foram fontes de novas ideias e criações. 

Talvez estas informações permitam vislumbrar a aurora do papel do corpo como mediador entre o homem primitivo e as superações das dificuldades ambientais. O corpo do homem primitivo estava em sintonia e intimidade com o ambiente, com a satisfação das necessidades e a solução dos problemas imediatos do cotidiano, no tempo em que não existiam tantos instrumentos, o corpo, em si, era o instrumento de mediação do homem com o mundo.

COSTA, Vani Maria de Melo. Corpo e História.
Disponível em < http://www.unemat.br/revistas/ecos/docs/v_10/245_Pag_Revista_Ecos_V-10_N-01_A-2011.pdf> acessado dia 26/01/2015




O corpo no período clássico

A cultura grega em geral, difundida nos contextos das cidades-estado, deixa pistas da concepção diferenciada de corpo, um exemplo, Esparta e Atenas. Em Esparta, o perfil de homem predominante na educação dos jovens era o da virilidade, força e coragem, atributos essenciais aos soldados destinados às guerras. Em Atenas o perfil se definia pela formação do jovem, hábil nos jogos individuais e coletivos, versado nas artes na literatura, na oratória e na filosofia, atributos do homem culto. Ambas as cidades cultuaram a beleza do corpo forte ou suave, os contornos e definições do corpo, feminino e masculino, deveriam levá-lo mais próximo possível da perfeição,


COSTA, Vani Maria de Melo. Corpo e História
Disponível em < http://www.unemat.br/revistas/ecos/docs/v_10/245_Pag_Revista_Ecos_V-10_N-01_A-2011.pdf> acessado dia 26/01/2015




O Corpo na Idade Média



O domínio da igreja na idade média era indiscutível, tanto nas questões religiosas, bem como nas questões econômicas e sociais. A grande influência da igreja atinge também o corpo, esta exerce dominação sobre a visão de santidade e profanação a respeito das questões relativas ao corpo. Sendo assim o corpo assume ao mesmo tempo funções santas e funções profanas, usos e costumes santos e também usos e costumes profanos.

O homem neste período era visto de forma fragmentada e dualista, havia então, uma separação entre corpo e espírito, onde o corpo e as coisas referentes à ele era visto como inferior, o espírito e as coisas referentes a ele, normalmente ligadas à igreja, como superiores.

Valendo-se desta ideia, o controle do corpo era feito pela natureza, Deus, o metafísico, o imaterial, o mito, um fenômeno que não poderia ser explicado pelo homem, apenas reproduzido e aceito em forma de dogma de verdade absoluta.

Partes do corpo eram santificadas, como a cabeça, pois esta é quem comanda o corpo, assim como Deus comanda seus filhos, essa é capaz de produzir inteligência e pensamentos elevados, em direção a Deus, as demais partes servem a esta elevação divinal, e de forma nenhuma podiam servir aos próprios gostos do corpo e seus prazeres. “[...] referenciais religiosos: a hierarquia entre as partes ”nobres” do corpo e as partes ”julgadas indignas”, o pudor orientado para o que agrada a Deus.” (Corbin 2008, p. 09)

Dessa forma vários tabus e concepções foram construídas e até cristalizadas a respeito do corpo e seu uso. O sexo usado para fins de reprodução humana, através do corpo era santificado e abençoado por Deus, porém o uso do corpo e do sexo para fins de prazer somente, era lascívia, luxúria, pecado abominável, dessa forma também eram visto as genitálias e as zonas erógenas, impuras e profanas, santificadas apenas no momento da reprodução. O sagrado segundo Rodrigues (1983, p. 25)” é o ser proibido que não pode ser violado, do qual não podemos nos aproximar, porque ele não pode ser tocado.”

Assim, quando o corpo era utilizado para as questões relativas á Deus, à produção e engrandecimento do espírito, era santo, e quando ele era utilizado para as questões materiais os “prazeres carnais”, o estudo, a arte, ele era profano e deveria ser tratado como tal, negando, purgando, purificando e santificando-o. A relação corpo natureza era vista com o domínio da natureza sobre o corpo.

ALMEIDA, Guenther Carlos Feitosa. O corpo e o trabalho: reflexões sobre a ginástica 
laboral e sua necessidade no sistema produtivo atual. Disponível em < http://www.efdeportes.com/efd142/o-corpo-e-o-trabalho-reflexoes-sobre-a-ginastica-laboral.htm> acesssado dia 26/01/2015




O Corpo na Idade Moderna


Tempos Modernos - Charlie Chaplin

A modernidade impulsionada pelas revoluções industrial e francesa, surge com outros paradigmas de sociedade, Deus, ciência e corpo. Neste momento acontece uma total inversão de poder, a igreja se enfraqueceria deixando de ser a detentora das verdades absolutas sobre o homem sobre Deus e sobre a sociedade, passando a ser questionada por cientistas e filósofos, que por sua vez trazem as verdades para o campo das ciências, assim estas eram obtidas a partir da comprovação científica.

Na idade moderna, principalmente no período da revolução industrial e francesa, há um novo olhar sobre o corpo, uma valorização muitas vezes aparente uma indissociação de corpo e mente, corpo e espírito, há também uma busca pelo renascimento de alguns conceitos de corpo da idade clássica, decorrentes do pensamento de Descartes.

A modernidade então chega com a premissa de uma mudança na visão de corpo, este era antes visto como profano ou só com o intuito de produzir coisas espirituais e superiores, agora é estudado em sua forma material, dissecado, analisado em formas humanas e não como anteriormente divinas e angelicais.

“Caracterizado na modernidade por meio de aspectos biológicos, o corpo é parte do conteúdo estudado por uma ciência secularizada que assume os pressupostos do dualismo cartesiano, [...]” (Suassuna, 2005, p.30)

Esta é a nova visão que o corpo assume na modernidade, sai do determinismo divino e imaterial, para o determinismo biológico. A busca moderna então seria pelo controle da natureza pelo homem Suassuna (2005).

ALMEIDA, Guenther Carlos Feitosa. O corpo e o trabalho: reflexões sobre a ginástica 
laboral e sua necessidade no sistema produtivo atual. Disponível em < http://www.efdeportes.com/efd142/o-corpo-e-o-trabalho-reflexoes-sobre-a-ginastica-laboral.htm> acesssado dia 26/01/2015



O corpo e o sistema produtivo


Na modernidade com o resgate da noção de corpo como máquina, gera o que Le Breton (2003 apud Suassuna 2005 p. 26) classifica como o despojamento do valor do corpo, este é encarado como um “invólucro mecânico” passível de separação entre corpo e subjetividade, corpo espírito, ou então essência e aparência.

Dessa forma o corpo assume então uma face possível de ser quantificado, mensurado, educado para então se otimizado para a produção. O sistema capitalista em ascensão neste período, enxerga nestes conceitos a possibilidade de melhorar os lucros por meio do aumento da força do trabalhador. È neste momento que a ginástica assume um papel primordial na vida dos trabalhadores e das fábricas.

“O corpo perde aí seus velhos encantos para um novo regime de imagens: aquelas que privilegiam as leis da física hidráulica, a lei dos líquidos e dos choques, a força do sopro do vento, o sistema das engrenagens ou das alavancas”. (Corbin 2008, p.08)

Educar por meio da ginástica o corpo dos trabalhadores, aperfeiçoar o funcionamento das máquinas humanas que são os trabalhadores, dando-as uma boa “lubrificação” e “manutenção”, com a finalidade destes produzirem mais foi então a grande busca dos patrões nas fábricas.

ALMEIDA, Guenther Carlos Feitosa. O corpo e o trabalho: reflexões sobre a ginástica 
laboral e sua necessidade no sistema produtivo atual. Disponível em < http://www.efdeportes.com/efd142/o-corpo-e-o-trabalho-reflexoes-sobre-a-ginastica-laboral.htm> acesssado dia 26/01/2015


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